Medo de dirigir: insegurança bloqueia na hora de estar ao volante.

Imprudências cometidas pelos outros motoristas,
somadas à preocupação de não cometer erros e com o risco de acidentes,
muitas vezes são motivos para não dirigir.

Quem está acostumado a dirigir talvez não entenda, mas o trânsito é
composto por elementos que podem figurar entre os maiores medos das
pessoas. As imprudências cometidas pelos outros motoristas, somadas à
preocupação de não cometer erros e com o risco de acidentes, muitas
vezes são bloqueios na hora de alguém decidir estar ao volante.

Segundo o instrutor Luciano Lessa,
especializado em reabilitação no trânsito, as pessoas que têm medo de
dirigir geralmente compartilham de um perfil muito perfeccionista e
responsável. “Normalmente, quem consegue superar o medo se torna um
excelente condutor. São pessoas cautelosas, que com segurança fazem tudo
dentro do correto”, explica. Luciano trabalhou como instrutor prático,
teórico e diretor de ensino em Centros de Formação de Condutores (CFCs),
em Porto Alegre. No entanto, acredita que o treinamento praticado não
prepara para o trânsito atual por ser focado no exame prático do Detran.
Em 2003, iniciou o Curso de Reabilitação para o Trânsito, destinado a
pessoas já habilitadas, que por algum motivo não dirigem ou precisam se
reciclar.

Luciano acredita que, na autoescola, os alunos são condicionados ao
trajeto que será feito na prova prática do Detran. “O futuro motorista
aprende macetes que não se aplicam na vida real e acaba tirando a
carteira com detalhes para corrigir. Alguns retornam às aulas para
aprimorar a técnica ou perdem o medo”, conta. Para o instrutor, no
entanto, é normal ter insegurança por falta de habilidade e intimidade
com o veículo. “O carro da autoescola não é seu. O aluno nunca dirigiu o
carro que tem na garagem, nunca esteve sozinho no trânsito. É comum
pedir ajuda”, completa.

Insegurança ao volante
O medo de dirigir está,
geralmente, ligado à insegurança com a atitude dos outros motoristas.
Para Livia Bongiorni, o medo está totalmente relacionado à falta de
confiança em dirigir. “Me assusta no trânsito a falta de paciência e
respeito dos motoristas, todos estão sempre com pressa e acabam
cometendo infrações totalmente desnecessárias e deixando o trânsito um
caos”, explica.

Há um ano, Lívia comprou um carro e tem tentado praticar cada vez
mais para se tornar mais segura. “O fato de ter medo de dirigir me
limita em muitas coisas, deixo de fazer coisas que são longe de onde
moro, de agilizar coisas do meu dia a dia, acabo dependendo de alguém
para me locomover, ou gasto dinheiro com taxi”, comenta.

Lizia Heineck também tem receio por falta de prática. “Tirei a
carteira em 2005 com 18 anos, na época tentei dirigir algumas vezes, mas
não frequentemente e por isso acabei perdendo o costume. Não tenho
medo, mas com a falta de prática pegar o carro em Porto Alegre hoje
seria complicado, teria que ir para um lugar calmo, sem trânsito e sem
muito movimento para voltar a me habituar a direção”, conta.

No entanto, para Lizia, não dirigir não é um fator limitante.
“Trabalho muito perto de casa e costumo ir a pé. Procuro fazer todas as
coisas perto de casa, os lugares que visito com frequência são todos
perto. A única dificuldade é quando tenho algum compromisso à noite.
Moro em um lugar que tem opções de ônibus e lotação, o que facilita.
Quando estudava na faculdade muitas vezes ia de ônibus e não via
problema algum”, completa.

Rotina ajuda a superar
Vitor Luís Silva
Corbellini é um exemplo de alguém que tinha receio de dirigir, mesmo com
a habilitação em mãos. Mesmo sem ter carro, frequentou as aulas da
autoescola, pensando em logo comprar um veículo, e passou na prova
prática. No entanto, demorou mais do que o planejado para investir em um
automóvel, o que trouxe ainda mais medo do trânsito. “Tinha receio de
trafegar, medo de acidente, não queria passar vergonha... De vez em
quanto fazia uma aula no CFC. De 1997 a 2011, quando comprei o carro,
tentava dirigir pelo menos uma vez por mês”, conta.

A diferença entre o que pensava do trânsito e o que ele realmente era
só foi sentida quando Corbellini realmente começou a dirigir com
frequência. “É preciso sentir o trânsito, seguir a velocidade. Quem não
está acostumado não tem a mesma velocidade e o mesmo reflexo de quem
está sempre no trânsito. Mas as pessoas que dirigem muito não querem
saber”, comenta.
 
Para perder o medo, foram 50 aulas de
reabilitação com o instrutor Luciano, mas hoje acredita que se tornou um
motorista muito prudente. “No início foi traumatizante, mas agora me
forço a enfrentar situações que tenho medo, como trânsito intenso, para
enfrentá-lo. Minha insegurança inicial hoje é a segurança de que faço
tudo certo. Respeito muito os limites, sou um motorista regrado. Dirijo
um dia sim, no outro não, para economizar. Uma vez por semana, saio para
treinar estacionamento em lugares tranquilos. É uma questão de prática.
No dia a dia é que a gente nota as dificuldades”, conclui.
 
5 dicas para superar o medo
O
instrutor Luciano conta que seu treinamento é focado na realidade do
trânsito de cada pessoa, com seus trajetos comuns. “É preciso estar
habituado com os caminhos que faz na sua rotina”, explica. Ainda assim,
algumas dicas podem ajudar a perder o medo de dirigir:

1- Entrar no carro e “namorar” o veículo: mexer no banco, ajustar as posições e ler o manual são maneiras de conhecer melhor o carro e se habituar.

2- Andar em trajetos tranquilos: é melhor começar
por ruas calmas, em dias de pouco movimento, para conhecer o carro. Não
adianta tentar começar no meio da semana às 18h. A tentativa pode ser
ainda mais traumatizante.

3- Cuidar os espelhos sempre: o condutor deve estar seguro do que vê.

4- Fazer os trajetos mais desafiadores aos domingos: é melhor escolher um dia em que as ruas estejam vazias para ver como é o caminho e como deve ser feito.

5- Andar pelo menos uma hora nas primeiras vezes: o
ideal é rodar com o automóvel por um tempo suficiente para cometer
erros, conhecer o carro, corrigir os problemas. Trajetos curtos não
trazem a prática necessária.

ALOHA BOECK

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