Mulheres somam 75% dos motoristas habilitados com medo de dirigir

O motivo é que elas são xingadas por outros motoristas e criticadas até mesmo pelos companheiros. Algumas ficam 30 anos sem dirigir



O estresse provocado pelo trânsito pode chegar ao ponto de impedir que motoristas com carteira consigam sair o carro da garagem.



De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Trânsito, dois milhões de brasileiros não dirigem por medo, e as mulheres são maioria: 75% das vítimas de fobia de trânsito. O motivo é que elas são xingadas por outros motoristas e criticadas até mesmo pelos companheiros.



Foram 20 anos sem tirar o carro da garagem até que Arlene Placê percebeu que, na verdade, tinha receio de dirigir. “Muita ansiedade, um pouco de insegurança”.



Ela procurou ajuda. Foi a um centro de treinamento específico para quem já tirou a carteira de motorista, mas tem medo de pegar o carro. Além de reaprender tudo, recebeu apoio psicológico.



“Algumas sofreram situações traumáticas, acidentes graves, xingamento, alguma agressão verbal. Algumas com falta de pratica mesmo. Isso tudo vai gerando insegurança”, afirma a psicóloga Débora Gonçalves Faria Alves.



Depois de 21 aulas, Arlene voltou ao trânsito. “A cada dia que eu consigo estacionar, a cada dia que eu volto da escola com o meu filho, eu me sinto bem realizada e como meu dever cumprido”, diz.



Não é um caso isolado. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego estima que dois milhões de brasileiros sofram com o receio de conduzir um veículo.



As mulheres são as maiores prejudicadas - já representam 75% das pessoas que têm medo de dirigir. Muitas vezes elas se afastam do volante por causa dos maridos e dos companheiros.



O sonho de Zenite Carvalho da Silva é antigo: assumir o controle de um carro pelas ruas de São Paulo.



Ela tirou carteira há 31 anos, mas sempre que assumiu a direção foi criticada pelo marido. “A minha dificuldade que eu acho é essa mais do meu marido. Que ele fala muita coisa que não deve falar comigo, que fica na minha cabeça. Quando eu vou, eu fico lembrando”, diz.



A vontade de dirigir aumentou depois que ela ganhou um carro zero no sorteio de um shopping. Agora, está fazendo aulas e anda animada. “Melhorou muito mesmo. Foi muito boa. Esses dias mesmo eu dei a volta sozinha no quarteirão, e não errei nada”, conta.



O especialista em medicina de tráfego orienta quem sofre com as buzinadas e pressões do dia a dia no trânsito. “Não ter as críticas como agressão, como maneira de tolher a sua maneira como motorista”, ressalta Dirceu Rodrigues Alves Junior.



No caso da Zenite, tensa com os pitacos do marido, ele dá um conselho. “Colocar o marido para fora do carro”, brinca.


Por Mariana Czerwonka - Portal do Trânsito

Fonte: G1 Notícias